segunda-feira

E se eu cortar?


Olhos postos nas mãos
vejo uma faca
eu sei o que fazer com ela
ela sabe o que fazer comigo

Conto-lhe tudo
E não lhe conto nada
ela sabe simplesmente
ela sente me

deslizo os meus dedos
pelo seu corpo afiado
procuro uma ruga, algum sinal do passado
não encontro nada

ganho o gosto de segura-la
assim me assusto com ela

e depois acordo deitado a seu lado

e depois

cortou

Venha a próxima onda

Começo por pensar na vida que tive
e dou por mim a coçar a vontade de mudar
a atitude e sorrir para tudo
e dizer para mim, o tempo vai passar

Não sei o que pensar
Não sei o que dizer
Não sei o que achar
nada como um tiro nos cornos
para acordar!

E dou por mim desfeito
meio entretido
com o sangue e os miolos
a escorrerem pelo ouvido

Pingando o chão
de vermelho
vejo o reflexo de um ego
Fedelho

Não dá para voltar atrás
Não era isto que eu queria
Mas o que é que eu quero então
Um tiro na cabeça!

Fora do corpo
fora de mim (quem eu era)
agora sigo uma pista
já noutro corpo
descalço eu me encontro, deitado
Junto ao mar com o sol ao meu lado
na espera pela próxima onda